Em residência: Bauru
Texto Curatorial da Mostra “Em residência: Bauru”
Por Regilene Sarzi
Sejam bem vindes à mostra “Em residência: Bauru”!
A exposição é composta de obras de nove artistas, Marilia Vasconcellos, Marcelo Bressanin, Edmar Almeida, Aran Carriel, Julia Nogueira, Jeff Barbato, Filipe Vinicius Lea Plaza, Felipe Cruz e Victor Harabura. O projeto “Em residência: Bauru”, contemplado pelo Edital Proac 10/2019 – Produção de exposições inéditas de artes visuais e aprovado por critérios como pertinência, relevância, qualidade e contemporaneidade temática presentes antes mesmo da realização da mostra, ou seja, em uma proposta que já expressava sua potencialidade de diálogo e reflexão plástica e artística para com a cidade.
Aran, Edmar, Marcelo e Marilia participam do projeto como artistas convidados e Jeff, Julia, Felipe, Filipe e Victor foram selecionados a partir de uma convocatória pública para artistas que inscreveram seus portfólios e uma proposta de criação a partir do tema: a cidade de Bauru. Todos os nove artistas produziram obras inéditas e específicas durante a residência, as quais vocês podem conhecer nesta mostra.
Partindo do título da exposição cabe refletir sobre duas palavras: residência e Bauru. A primeira, um substantivo feminino, a segunda, o nome próprio de um município do interior do estado de São Paulo, localizado no centro-oeste e a 326 km da capital paulista. Inicialmente, projetemos sobre a palavra residência, nossa lente zoom e façamos uma aproximação detalhada para delinear o sentido da palavra. Residência, casa, morada, habitação, domicílio, lugar fixo no qual alguém habita, vive. Local que alguém reside temporariamente, estando de passagem. Etimologicamente, a origem da palavra residência é do latim domun – lar e fruto da conjunção de residir+ ência. Residir – ação, verbo associado ao lugar, ambiente, sítio. O lar, ainda que possa ser usado como sinônimo de casa, é concebido como lugar de proteção, abrigo e afeto. Residência, no entanto, está muito mais associado a habitação, ou seja, habitar e a ação de residir – conviver e viver, que embora possa figurar um grau de segurança, contêm também um certo fluxo, trânsito, passagem que pode nos revelar um momento (tempo) quando, a partir da nossa presença, habitamos aquele lugar (espaço). Neste sentido, a residência comporta-se socialmente como arquétipo da habitação.
No seu clássico estudo sobre a identidade contemporânea, em A identidade cultural na pós-modernidade (1992), o sociólogo jamaicano Stuart Hall nos revela um aporte potente para compreensão das relações que tecemos com os lugares que habitamos. Hall, afirma que todas as identidades estão localizadas no espaço e no tempo simbólico. Elas têm aquilo que o professor de literatura e membro do movimento literário pós-colonialista palestino Edward Said, chama de geografias imaginárias, paisagens, características, seu senso de lugar, de casa, lar, localizações no tempo, nas tradições inventadas que ligam o passado e o presente, em mitos de origem que projetam o presente de volta ao passado. O lugar é específico, concreto, conhecido, familiar, delimitado: o ponto de práticas sociais específicas que nos moldaram e nos formaram e com as quais nossas identidades estão intimamente ligadas (HALL, 2006).
Apontemos nossa lente zoom agora para focalizar a palavra Bauru que dá nome a cidade, proposta como lugar a ser habitado pelos artistas desta mostra. Etimologicamente, a palavra é de origem indígena gerada a partir de três fontes da língua Tupi-Guarani: mbai-yuru que significa “queda de água” ou “rio de grande inclinação”; ybá-uru, que quer dizer “cesta de frutas”, ou bauruz, como eram chamados os índios que habitavam as margens do rio Batalha. A região era habitada por duas etnias – os caingangues e os guaranis. A história relata vários confrontos entre os grupos indígenas, os bandeirantes paulistas e outros grupos de colonização, como migrantes mineiros, que aqui chegaram para fundar em 1896, a cidade de Bauru. Da cafeicultura à ferrovia, encontram-se as inúmeras estórias sobre as tempestades que inundam as Nações Unidas, e que são na realidade momentos em que o Ribeirão das Flores, um afluente do Rio Batalha, volta a habitar o seu leito e a correr livre em seu fluxo. E não podemos deixar de citar o slogan da cidade – “Bauru cidade sem limites” – criado para traduzir a ideia de ligação, articulação que a cidade faz entre diferentes regiões por meio das rodovias e hidrovias que passam por ela, configurando um entroncamento de importantes estradas que cortam o estado de São Paulo, e jogam mais uma vez com as palavras – sem limites, sem fronteiras.
Mas quais os limites da cidade? Fronteiras, territórios, lugar e espaço, itinerância, errância, nomadismo e Bauru de nome próprio passa a substantivo feminino – residência: “Em residência: Bauru”. As obras presentes na mostra surgem do exercício do walkscapes ou o caminhar como prática artística, conceito desenvolvido pelo italiano Francesco Careri que em 2002, lançou o livro Walkscapes, no qual ele publica uma espécie de relato de experiência das atividades dos primeiros humanos nômades até os artistas da Land Art, dos anos 1960 e 1970, para incluir nessa prática os artistas do grupo Stalker e a primeira experiência deambulatória realizada em 1995 pela cidade de Roma, que percorreu 60 km a pé e durou quatro dias e três noites, chamada Stalker Atravesso i Territori Attuali (CARERI, 2013).
Muito se fala sobre o conceito de temporalidade na arte contemporânea, mas a experiência temporal está ancorada à experiência dos lugares e dos trânsitos por territórios e não por acaso, chegamos as cartografias (itinerários, territórios) e o nomadismo ou derivas psicogeográficas, que dominam as exposições artísticas a pelo menos duas décadas. Estas estruturas cartográficas implicam na transformação das condições de percepção, ocupação do espaço e mudanças nos procedimentos de criação e organização institucional da arte no mundo contemporâneo. Neste contexto, a arte contemporânea busca experiências sem fronteiras, nômades, em constante fluxo, sendo a metáfora da diáspora, do flâneur, uma das mais pertinentes. O sociólogo francês Michel Maffesoli, em Sobre o nomadismo: vagabundagens pós-modernas (2001), define o nomadismo como um comportamento essencial e próprio da condição humana.
Se cabe destacar um elemento, entendemos que a linguagem artística – site specific – cujas obras são criadas especificamente a partir daquele lugar ou para aquele lugar – sítio específico ou lugar específico – conceito expandido das instalações artísticas produzidas para um determinado ambiente ou sala de exposição, é algo a ser considerado uma vez que esta nasce da imersão no tema – a cidade de Bauru – sua paisagem urbana, arquitetura, praças, ruas e avenidas, seus rios, e sobretudo, as pessoas que aqui vivem, sua história e estórias. Dessas surgem pesquisas, investigações, visualidades e reflexões traduzidas em obras específicas, materializadas sobre papel, madeira, barro, objetos, vídeo e toda sorte de suportes e técnicas – escultura, gravura, fotografia, vídeo, música, assemblages, colagens.
Voltemos a residência – termo que nasce da experiência de habitar, conviver, morar, residir não apenas o tema da mostra em si – a cidade de Bauru – mas o próprio processo criativo das obras que ocorre em um espaço tempo específico durante a residência, tal como o termo é usado na medicina ou em cursos de formação que a experiência envolve um exercício da atividade profissional intenso direcionado pela prática individual vivenciada coletivamente. O processo de criação revela o convívio no ateliê cujo aprendizado alquímico, transforma não só matérias brutas em obras de arte, mas também sujeitos criativos em artistas sensíveis, que despertam desse encontro imersivo com a cidade, com outros artistas e consigo mesmo. Neste sentido, a metodologia cartográfica e imersiva envolveu cada artista, à sua maneira, em um procedimento em comum: a deriva e a circulação pela cidade em busca do invisível, do intangível que se mostrasse parte da construção de sentido que cada um desejava expressar. Assim temos relatos de caminhos percorridos de bicicleta, ônibus, a pé e de regiões a regiões distintas e longínquas da cidade, até os encontros no ateliê coletivo sediado pelo Estação Cidadania – Cultura / CEU Bauru , localizado na região do Geisel, em Bauru.
Marilia Vasconcellos, se apropria de diferentes materialidades em suas obras, algumas ela coleta nos lugares de deriva como pequenas folhas, galhos, flores e sementes para criar assemblages ou colagens tridimensionais, fruto de composições orgânicas que, como herbários, traduzem cenários botânicos das coletas da artista, por ela nomeados de Botânica, um work in progress que se atualiza a cada nova exposição. Essa série guarda a memória na forma daquelas plantas secas, podendo posteriormente serem ou não eternizadas por registros fotográficos. A artista também modela pequenas peças em azulejos, Relicários, cujo imaginário visual dialoga com essa construção de pequenos mundos como aqueles acondicionados em vidros que lembram os terrários e ainda revela, aberto sobre uma mesa, as camadas de um livro antigo, adquirido em um sebo de Bauru, que narra a história da cidade. A poética de Marília nos remete à arqueologia, aos artefatos arqueológicos e aos estratos de diferentes temporalidades que reverberam a memória e o conhecimento do lugar que a artista habitou durante o período da residência – Bauru.
Marcelo Bressanin, tece uma conexão com as obras de Marilia e a memória e a arqueologia do lugar, criando duas instalações sonoras. A primeira obra Deluxe 5”: dispositivo composicional randômico, composto de aparelho de rádio/TV portátil que foi transformado pelo artista para emitir sons de estações de rádios locais cuja sintonia se diversifica em tempo real. A segunda é uma peça tridimensional sonora, que reverbera o som do movimento da água que circula de um ponto a outro da escultura através de uma mangueira sanfonada industrial, percorrendo de cima a baixo geograficamente um território. A obra O Rio sempre volta, construída com vergalhões ferro e bases de concreto, expõe em sua estrutura, a gambiarra do sistema eletrônico que capta o som através de micro sensores amplificando a acústica do fluxo da água elemento essencial da obra através de caixas de som. Tal estrutura sonora provoca a atenção e interação espacial pela sensorialidade auditiva e permite que a obra funcione como uma caixa ou uma “fonte” experimental, que presentifica o Rio das Flores, hoje aprisionado debaixo da avenida Nações Unidas.
De igual forma, em diálogo com as águas, Edmar Almeida, apresenta como resultado de suas derivas pela cidade, um conjunto de xilogravuras, uma videoinstalação e uma peça tridimensional – um objeto instalação – um barco, chamado Caçamba. As obras tecem um diálogo entre elas essencialmente marcado pela materialidade que as constitui como o barco criado a partir de materiais coletados em caçambas pela cidade, que ao final transforma-se em uma arena para a reflexão do artista sobre o descarte de lixo e materiais industriais, e a poluição e degradação dos rios da cidade e região. De igual forma, na videoarte tem se um registro das águas poluídas e a ausência de cuidados e tratamento que continuam deteriorando a paisagem bauruense, e no conjunto de xilogravuras circulares, intituladas Sangrias do Rio Bauru, nota-se o gesto do artista que cava e registra na madeira, os diferentes percursos do principal rio bauruense, cujas imagens gráficas sintetizam, de forma poética, sua arte política e conceitual.
Aran Carriel, na mesma linha do conceitualismo, compõe um assemblagem e o material gráfico do disco AUTOBONECO+<: (C)IDADE MÉDIA (SUBTÍTULO: EX-CULTURA/REVOLTA MEC^NIC^) produzido a partir de registros sonoros, ruídos e outros sons da paisagem urbana, da arquitetura da metrópole. Na parede da galeria, o artista desenhou uma montagem, indicando a forma de um “boneco”, com a capa, contracapa e os encartes do disco, em uma expografia síntese e visual do conceito criativo da banda ou antigrupo, como ele destaca, Autoboneco+<, marcada por influências folk e post-punk clássico, que conecta o corpo à experiência da cidade, ao movimento underground bauruense, e a presença singular da música e da arte underground na cena cultural bauruense.
Se a experiência conceitual para com a cidade e a paisagem urbana passa pelas bordas, pelas extremidades, a artista Julia Nogueira, na obra Instabilidades Cotidianas revisita as proposições da arte Neoconcreta, que tece relações com a materialidade das obras de arte para provocar reflexões políticas sobre o embate do corpo com a cidade. Julia também visa propor uma discussão sobre o descarte enorme de lixo e materiais industriais que poluem as cidades e entulham as ruas, dificultando o trânsito e a locomoção das pessoas, e ao final se acumulando nos terrenos baldios nas periferias das cidades e ou nos leitos dos rios no entorno urbano. Com isso, Júlia se apropria de materiais de construção civil como madeiras, papelão e tela de arame para construir um “paredão” ou uma estrutura escultórica que se contrapõe entre a cidade e as pessoas que nela habitam. A obra exerce sua presença na forma de uma materialidade que resulta em um estética “povera”, deteriorada em vias de decomposição, mas que ainda assim atua fortemente na ação de limitar e aprisionar o movimento dos corpos, configurando-se em uma espécie de territorialização.
Da limitação imposta pelos territórios às superações da ciência, o artista Jeff Barbato, narra de forma poética as estórias de afeto e recuperação da qualidade de vidas de pessoas que vieram a Bauru para se tratar no Centro de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Labiopalatais da FOB (USP). Tendo como referência a sua experiência como paciente do mesmo Centro, o artista traduz a fissura em poesia na forma de uma instalação composta de assemblages e objetos, materializada pela leveza de peças (pratos) de porcelanas, metáforas da delicadeza e fragilidade, reconstruídas pela técnica milenar japonesa do Kintsugi, que se transformam em obras de arte, fortes e potentes mantidas por trajetos reconstruídos na superfície de ataduras, como em Tantos chãos inconformados, e em bordados, como na obra Útero.
Filipe Vinicius Lea Plaza, apresenta um conjunto de fotomontagens, fruto da conexão entre pessoas e lugares conhecidos da cidade visando conferir visibilidade a moradores bauruenses, cuja presença sofre diariamente um apagamento social. O artista criou objetos performáticos a partir dos quais surgem conexões com o sagrado e a criação de ícones religiosos, como São Sebastião, que encarnados por moradores, convidados a performar diante da câmera, ganham vida nas obras Santa Joyce e Santa Santina. Filipe tece narrativas visuais repletas de sensibilidade, mas não menos carregadas de teor político, as quais são uma síntese de inúmeros relatos de exclusão e violência contra pessoas LGBTQIA+.
Felipe Cruz, embrenhou-se pela cidade de Bauru tendo uma câmera de vídeo nas mãos e a sua experiência com o projeto Pato VHS e ao final de sua expedição videográfica, o que vemos na mostra são vídeos que registram uma cidade que pouco conhecemos e seus habitantes noturnos, notívagos. Cabe ressaltar que não são apenas registros documentais, mas pelo contrário, são a visão ou, melhor, a audiovisão de um artista da imagem movimento – da arte eletrônica – que reitera ruídos, reconstrói imaginários e dá materialidade a videografias em fluxo, somados a criação sonora urbana. São videoartes que costuram fragmentos, sobrepõem cenas a colagens de registros inusitados, manipulados pela pós-produção que edita a paisagem urbana taciturna. As obras de Felipe compõem a audiovisualidade eletrônica provocada pela bricolagem urbana e suas cenas cotidianas e coletivas, trazidas à luz por um artista da arte do vídeo, das telas videográficas.
Victor Harabura representa, na série Kaingangs, de forma contundente e expressiva por meio da escultura e do desenho, os povos originários que habitavam o território no qual hoje está localizado a cidade de Bauru, dando ao seu projeto poético a expressão do rosto de três Kaingangs. Em suas pesquisas, realizadas antes da pandemia, o artista esteve na Reserva Indígena Araribá, no município de Avaí, quando conheceu o cotidiano das pessoas daquela aldeia. Victor afirma que seu trabalho objetiva romper com estereótipos para dar visibilidade a questões como a vida cotidiana, a violência e os conflitos que o povo indígena enfrenta na luta pela garantia do seu direito à demarcação de suas terras e preservação de sua língua e de sua cultura.
Um breve relato de cada processo criativo em síntese não espera dar conta da complexidade das obras que resultaram da residência, mas busca traçar um perfil ou melhor um contorno do território envolvido em cada uma das proposições artísticas desta mostra e ao mesmo tempo como elas compõem o coletivo, a exposição “Em residência: Bauru”.
Dessa forma, as derivas ganham percursos delineados pela experiência de cada artista com a cidade, sua visão, sua poética, do vídeo à arte sonora, das instalações as fotografias e dos objetos e assemblagens as esculturas e desenhos, os quais resultam em estruturas ou texturas e tessituras conectadas pela reflexão e crítica sobre o espaço, o lugar e os modos de residir, modus de vida na cidade que edificam novas expressões e comunicações, novas paisagens urbanas, efêmeras e provisórias contra as quais a memória e a temporalidade – ou o intemporal – travam embates diários. As percepções do espaço urbano só são ressignificadas pelas Artes Visuais que propõe um encontro com o outro, da identidade que se perfaz pela alteridade, para dar sentido à vida e a existência que tem no corpo seu maior instrumento para o habitar, no aqui e no agora, o presente cujo instrumento é investigar e conhecer para dar visibilidade às experiências estéticas, sinestésicas, sensíveis e colaborativas, que tratam de questões coletivas: papel social e político da arte contemporânea, sim!!!
Sentimos imensamente a falta da presencialidade, a ausência do público e seus embates com as obras no espaço expositivo que certamente daria um impulso para além do esperado pelas provocações dos artistas desta mostra, composta de trabalhos artísticos dignos de estarem em salas de exposições e instituições da cidade de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, e em mostras como bienais e exposições promovidas por museus como Itaú Cultural, MAC ou MASP. Mas a pandemia do COVID’19 chegou na primeira quinzena de março de 2020, após as quatro semanas de trabalho no ateliê e o isolamento impactou o projeto provocando uma lacuna, um vazio, entre o tempo de produção e o tempo de exibição das obras – dez meses.
Superada a questão temporal, e sem perder a conexão, os artistas exibem aqui suas obras as quais carregam a potencialidade dos caminhos percorridos, das conversas no ateliê e dos resultados plásticos de cada um e do grupo/coletivo. Nestes meses, depois de tantas mudanças, perdas e incertezas as obras que podemos conhecer nesta mostra são fruto de um complexo processo criativo que se alimentou da mobilidade, da deriva e do nomadismo para conhecer Bauru e revelar outros olhares e perspectivas sobre a cidade sem limites. No entanto, o isolamento, o fechamento de fronteiras e a ruptura da mobilidade é um marco destes tempos difíceis que nos fazem refletir sobre o quanto a mostra “Em residência: Bauru” é ao mesmo tempo, metáfora e espelho de uma curiosa contradição contemporânea: embora isolados, somos hoje mais do que nunca, seres hiper conectados.
Boa fruição!
Bauru, abril de 2021
O projeto
O projeto teve como estrutura a abordagem da cidade e suas dinâmicas como matérias para o trabalho artístico. A sensibilização da população para questões relativas à ação humana no espaço, à produção da paisagem e à coexistência. A busca que partiu da interpretação, por meio de ações artísticas e educativas, da vida cotidiana em Bauru a partir das materialidades e simbologias da cidade. Uma investigação criativa das percepções dos moradores locais, suas experiências e fluxos no dia a dia da cidade.
A partir de experiências anteriores dos artistas Edmar Almeida, Marcelo Bressanin e Marilia Vasconcellos, que compartilharam residências artísticas em projetos como “Organicidades” (2019) e “Soy loco por ti Juquery” (2019), o projeto elegeu o espaço e as dinâmicas urbanas de bauruenses como seu campo de interesse, e abordou a cidade como matéria plástica e poética para a criação artística.
Para tanto, foram propostas atividades que contemplavam investigações artísticas site specific, ações de formação de público, descentralização do acesso às atividades formativas, registro e difusão dos processos criativos e uma mostra expositiva com obras inéditas.
Tendo em vista a seleção dos artistas bauruenses que iriam integrar o grupo de residentes do projeto, com intuito de desenvolver o conjunto de obras inéditas e site specifc que integrariam a mostra, a primeira ação implementada foi o lançamento de uma convocatória de propostas de residência, que previu a seleção de cinco (05) artistas maiores de dezoito (18) anos e residentes em Bauru. Os interessados poderiam inscrever propostas de qualquer linguagem artística em diálogo com as artes visuais. As propostas deveriam, necessariamente, ter relação com aspectos da cidade de Bauru e de seu cotidiano. Foram avaliadas propostas autorais inéditas, de artistas em formação universitária ou em qualquer estágio de carreira. As inscrições foram realizadas por meio de formulário on-line.
Após avaliação de 17 projetos, foram classificados e convocados para a residência os cinco (05) candidatos com maior pontuação, e um suplente (sexto colocado). O júri de seleção foi composto pelos artistas convidados pelo projeto em colaboração com a pesquisadora responsável pelo acompanhamento crítico dos residentes.
Os artistas selecionados foram: Felipe Cruz, Filipe Vinicius Lea Plaza, Jeff Barbato, Julia Nogueira Duarte de Oliveira, Victor Harabura de Freitas. Suplente: Matheus Faria da Silva.
O projeto realizou uma residência artística de três (03) semanas na cidade de Bauru, reunindo os quatro (04) artistas convidados pelo projeto e mais cinco (05) artistas locais. Ao longo da residência, os artistas receberam o acompanhamento crítico e curatorial de Regilene Sarzi, Pós-Doutora em Artes, pelo Instituto de Artes da UNESP/SP, Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, Professora Assistente Doutora do Departamento de Artes e Representação Gráfica da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP/Bauru. O acompanhamento crítico foi realizado através de encontros entre a pesquisadora e o grupo de artistas, ao longo das três semanas da residência.
O conjunto de obras inéditas e site specific produzidas ao longo da residência será exibido em uma mostra inédita realizada na Galeria Municipal “Angelina Waldemarin Messemberg”, no fim de janeiro de 2021.